Responsabilidade social passa a ser uma das diretrizes de diversas companhias

Entrevista concedida ao portal News Curriculum

responsabilidade.social.1

Esse novo conceito ainda é mérito das grandes corporações, mas aos  poucos vai se tornando também uma preocupação das pequenas e médias  empresas e das universidades.

Para falar um pouco sobre esse assunto, o NewsCurriculum procurou o  economista e consultor de empresas, Ricardo Porto, da Phoenix Search,  empresa especializada em recrutamento e seleção de executivos. Ricardo e sua equipe trabalham com Grupos de Estudos do Pathwork, que têm como princípios a conscientização individual e a humanização das relações  profissionais.

News: O senhor acha que a ética empresarial está sofrendo mudanças?

Ricardo Porto: O nível de consciência do brasileiro, em geral, está melhorando. A maior prova disso foram as recentes eleições, em que houve uma renovação. Nas empresas, ocorre o mesmo.

Todas as empresas querem eliminar de vez a corrupção, a lei de Gerson. Mas o grande trabalho deve ser feito na esfera individual. A realidade só muda quando individualmente cada pessoa mudar; o trabalho é de dentro para fora. É claro que há também um movimento de fora para dentro, do macro para o micro, que procura criar uma nova ética nos negócios por meio de programas, treinamentos. O homem brasileiro está no limiar de uma nova época e está muito mais responsável, mais preocupado com as pessoas que

o cercam, com o meio ambiente, com a ética nos negócios, etc. Os negócios têm de ser bons para os dois lados: empresários e colaboradores. E todos têm de ser reconhecidos por seu trabalho e têm de ter oportunidades (estrutura) para desempenharem bem suas funções. Nas organizações, se há um departamento ou uma pessoa que não está desenvolvendo a contento aquilo que se espera dela, o que se faz? Manda-se embora? Não, a empresa tem de criar condições para que esse departamento, esse indivíduo cresça e se iguale ao resto da empresa. Esse é o princípio ético que norteia hoje em dia muitas empresas. A empresa tem de ter responsabilidade em todos os aspectos: com o produto, com seus clientes, com seu público interno, com o meio  ambiente, com a sociedade na qual atua, etc.

News: Mas essa nova ética ou visão não vai um pouco contra a visão capitalista, que visa primeiramente ao lucro?

RP: O lucro é indispensável, pois, se não lucrar, a empresa não sobrevive a médio, longo prazo. A diferença é de postura, é que o lucro não é o fim, é a conseqüência de políticas, de procedimentos da empresa.

O lucro é uma contingência natural, mas não se pode administrar uma empresa só pensando nele. Tem que se pensar no cliente, na qualidade dos produtos, na satisfação do público interno. Os funcionários precisam se sentir bem dentro da empresa. Se tudo isso acontecer, o lucro é certo.

Uma coisa é você administrar uma empresa só pensando no lucro, outra coisa é ver o que é necessário fazer para se obter esse lucro, já que ele é indispensável. Eu tenho sentido já há alguns anos um movimento nessa direção: na humanização da empresa. Diria mais, na espiritualização da empresa. Há que se ter cuidado, no entanto, para não confundir espiritualidade com religiosidade. Cada um tem a sua religião.

Espiritualidade tem a ver com atitudes, com respeito, com responsabilidade, com a busca das necessidades dos indivíduos. O cuidado com os profissionais que trabalham, com a qualidade dos produtos, com a ética nos relacionamentos com fornecedores, clientes, com o governo, com o país, com a natureza, tudo isso é espiritualidade.

News: O senhor acha, então, que tem aumentado o número de empresas que  estão mais preocupadas com o social? E o consumidor, ele dá realmente mais crédito a essas empresas?

RP: Com certeza, pois isso cria uma imagem de responsabilidade.

Novamente, se a empresa entende que o lucro é uma conseqüência e não uma busca desesperada, como faz para que seu público consumidor perceba isso? Desenvolvendo projetos que não visem ao lucro. A empresa fica com maior credibilidade diante da sociedade. E o consumidor vai fazer questão de comprar os produtos ou serviços daquela empresa, pois vai pensar que, se ela se preocupa com projetos sociais, com certeza, também preocupa-se com a qualidade de seus produtos ou serviços.

News: Como o senhor vê o papel das universidades na formação desse profissional mais humanizado, mais responsável, mais ético? Sabemos que, atualmente, há uma preocupação muito grande com a formação técnica do jovem e nenhuma com sua formação ética social.

RP: Estamos vivendo uma época de transição, com muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo: globalização, Internet… A formação de um indivíduo numa universidade demora no mínimo 4 anos, em alguns casos até o dobro disso. Como estão acontecendo muitas coisas ao mesmo tempo, as universidades ainda não perceberam para onde devem dirigir seus programas curriculares. O que eu vejo hoje é uma preocupação em formar profissionais afinados com a globalização, porque essa é uma tendência presente e que vai permanecer. Agora, não vejo ainda a preocupação com os aspectos sociais. Não existe nenhuma universidade com uma matéria que seja responsabilidade social ou ainda ética nos negócios. A única que está sintonizada com esse novo espírito é a Fundação Getúlio Vargas, que mantém desde 1995 o Centro de Estudos do Terceiro Setor. Entre os cursos oferecidos, há um denominado Administração para Organizações do Terceiro Setor. Agora, realmente, quem tem tomado a iniciativa são as empresas, elas estão sendo pioneiras. As universidades vão ter de vir atrás. Elas poderiam pelo menos desenvolver programas, ciclos de palestras, convidar especialistas para discutirem esses assuntos. Já seria um bom começo.

News: Como são os Grupos de Estudos do Pathwork?

RP: O Pathwork é um curso de autoconhecimento. A transformação da sociedade ocorre a partir da transformação do indivíduo, ou seja, de cada um de nós. Para que a pessoa se transforme, é necessário que ela se conheça, tanto suas qualidades como seus defeitos. O curso procura fazer com que a pessoa se conheça melhor, suas limitações, suas crenças errôneas, que muitas vezes foram introduzidas por figuras autoritárias (pais, professores, Igreja). Por exemplo, o ditado: dinheiro não traz felicidade? Uma pessoa que acredita nisso, não vai crescer na vida financeiramente, pois ela, inconscientemente, vai pensar que está cometendo um pecado, que se tiver dinheiro vai ser infeliz.

Na Bíblia há uma passagem que diz que é mais fácil um camelo passar por um buraco de uma agulha do que um rico entrar no céu? Houve uma grande distorção disso. Na verdade, o que Jesus pregava era que não podemos só nos preocupar com os aspectos materiais. Agora, existe a lei de causa e efeito. A gente deve ter responsabilidade por tudo. Reclamamos das enchentes, mas vivemos jogando lixo no chão. Então, temos nossa parcela de culpa pelas enchentes também.

News: Até que ponto o autoconhecimento pode fazer com que a pessoa mude sua essência?

RP: Quando você não tem consciência das coisas, tem uma tendência a pôr a culpa das coisas que acontecem nas outras pessoas. As pessoas não percebem que elas repetem as mesmas situações com pessoas diferentes.

Então, todo mundo está errado, somente eu estou certo?! Somente quando você se dá conta de que tem uma parcela de culpa em tudo de ruim que acontece em sua vida, começa a pensar em que tem de mudar para que os eventos azarados não ocorram mais. Para mudar, é preciso tomar consciência das coisas erradas que fazemos, de que estamos repetindo atitudes erradas. Todo ser humano tem necessidade de ser reconhecido e amado e, por isso, esconde seus defeitos, cria uma máscara para poder conviver com as outras pessoas. Com o tempo, acredita nessa imagem que fez de si mesmo e, quando as situações ruins ocorrem, acha que a culpa é do outro, pois não enxerga a verdadeira face. Joga seus defeitos para o inconsciente. O trabalho dos Grupos de Estudos do Pathwork é tirar essa máscara, essa fantasia, para que a pessoa possa reconhecer seus defeitos. O processo de autoconhecimento não é fácil nem rápido. Mas com ele aprendemos a enxergar nossas qualidades, nossas limitações, a respeitar o outro, a ser menos egoístas, a perceber os interesses da  coletividade.

News: Como é estruturado o Pathwork?

RP: É uma terapia de grupo, mas não só isso, pois leva em consideração o  lado espiritual. É a união das duas coisas. A terapia tradicional cuida somente da mente, mas a alma também precisa de uma terapia. O Pathwork é uma psicologia da alma. Cuida de aspectos seus que você não sabe que tem, mas que influenciam sua vida. Os grupos se reúnem uma vez por semana, são grupos de 8 a 10 pessoas. A maioria das pessoas que participam são executivos e profissionais liberais. Primeiro, aprendemos a meditar e técnicas de relaxamento. Depois discutimos o conteúdo da palestra. São 285 palestras com forte conteúdo psicológico e espiritual.

Levantamos as questões, debatemos, trocamos experiências. Dessa troca surge a consciência do que deve ser mudado. Os grupos são semestrais.

Ao término, avaliamos se há interesse do grupo em continuar por mais tempo. Pois o autoconhecimento pode ter um início, mas nunca sabemos onde é o fim. Na realidade, ele deve ser um exercício diário de todos nós.

admin

Deixe uma resposta

Your email address will not be published. Required fields are marked *