Sou livre? Sou independente? Posso ser livre sendo dependente, ou para ser livre preciso ser, necessariamente, independente?
Já há algum tempo venho conjecturando sobre o significado de Liberdade e Independência, não do ponto de vista semântico[1], mas sim sob a ótica do comportamento humano e mais especificamente, dos relacionamentos interpessoais.
Penso que o conceito de Independência tem relação com o valor pessoal de cada um ou, se preferirem, com a Auto-Estima. Explico melhor: não sou independente se, para me sentir bem comigo mesmo dependo da opinião ou da avaliação positiva dos outros! Na prática, os sinais de que não sou independente aparecem quando me comparo com outros para me auto avaliar; concorro, desmedidamente, por visibilidade e atenção, pressiono para ser reconhecido, me submeto às exigências descabidas dos outros, procuro mostrar meus conhecimentos de forma exagerada, reajo às críticas de forma intensa e desproporcional, sinto despeito pelo sucesso dos outros, fico na defensiva e só me dôo se tiver recebido primeiro, não coopero e nem divido informações com medo de ser passado traz e por aí vai… A lista de exemplos pode ser grande…
Não se trata de não ligar para a opinião das pessoas sobre nós, pois não há nada errado em querer ter sucesso, ser reconhecido, considerado ou querido!.A questão fundamental é: como me sinto se não receber o que desejo e se não tiver aprovação? Vou-me sentir indigno, desrespeitado, desconsiderado, injustiçado, rejeitado, abandonado, culpado?
Muitas pessoas acreditam que a falta de reconhecimento deve-se a algo de muito errado com elas, e tendem a generalizar esta crença achando-se totalmente inadequadas, o que, certamente, não é verdade! A verdade é que temos qualidades e defeitos. Seguindo esta lógica, a falta de independência, em primeiro lugar, causa frustração e baixa auto-estima, já que é impossível obtermos a aprovação de todas as pessoas e nem mesmo a aprovação total de alguém o tempo todo. Em segundo lugar, a falta de independência faz com que nossos relacionamentos – afetivo, social, familiar, profissional – se tornem exigentes e tensos, pois estão baseados na nossa “exigência” de que a outra pessoa preencha do nosso vazio interior e não na troca, no dar e receber desinteressado e equilibrado. Os conflitos, em todos os níveis e em grande parte, decorrem do nosso desconhecimento de que apenas nós podemos preencher, gradativamente, nosso “vazio interior”
E quanto à Liberdade? Entendo que ser livre, ter liberdade, significa escolher, decidir, falar e agir segundo minhas próprias convicções e de acordo com a minha Consciência. Mas se, entretanto, minhas escolhas, decisões e atitudes estiverem “contaminadas” pelo meu desejo de reconhecimento e aprovação então, eu não decido por mim mesmo, mas sim pela opinião dos outros, portanto não sou independente.
Assim sendo, o pré-requisito para ter Liberdade é ser Independente! Sem que este pré-requisito seja satisfeito posso até pensar que sou livre, mas será uma ilusão que não se sustentará por tempo indeterminado.
Bem, agora a pergunta final: como posso me tornar Independente?
Acredito que um bom começo é assumir a nossa auto-responsabilidade. Aceitar o fato de que, neste momento, tenho virtudes e defeitos, e meus erros são de minha total responsabilidade e não fruto do acaso ou culpa dos outros. Isto me tira do papel da vítima indefesa, me permite aprender com os erros, ampliar minha autonomia, me libertar da opinião dos outros, fortalecer minha auto-estima e, finalmente me tornar mais e mais Independente!
Finalizo com uma citação de Steve Jobs que, além de um gênio da Era Digital, foi um humanista de grande sensibilidade:
“Seu tempo é limitado, então não o desperdice vivendo a vida de outra pessoa. Não fique preso pelo dogma – que é viver pelos resultados do que outras pessoas pensam. Não deixe o ruído da opinião dos outros afogar a sua voz interior. E o mais importante, tenha a coragem de seguir seu coração e sua intuição. Eles, de alguma forma, já sabem o que você realmente quer se tornar. Tudo o mais é secundário”
Steve Jobs (1955 – 2011)
[1] Liberdade – s.f. É a capacidade de agir, atuar, decidir, expressar-se, segundo sua própria vontade e determinação, mas dentro dos limites estabelecidos pela Sociedade. Independência -: s.f. Qualidade de quem tem autonomia. Que é, ou tornou-se, livre de qualquer laço ou compromisso afetivo, social, moral, etc. In, Novo Dicionário do Aurélio, Editora Nova Fronteira.
Caro Ricardo,
gostei do artigo, pois estas duas palavras liberdade e independencia tem um sentido amplo em nossas vidas, mechendo com nossas fragilidades, arrogancias e ego. Mais pertinente ainda e eu concordo plenamente com a colocação do Steve Jobs, apesar de tudo “ter a coragem de seguir seu coração e sua intuição” é o que tenho procurado fazer.
um abraço
Marco
Caro amigo Ricardo, Ótimo artigo. Você ilumina uma dimensão muito relevante do tema independência do ser humano. Provoca reflexões nos leitores que certamente ao longo da leitura vão se recordando de diversas situações das suas próprias vidas e mais ou menos se encaixando nas suas provocações. Tenho a convicção que os leitores menos defensivos encontrarão para cada situação pelo menos uma experiência própria passada, da qual se lembrarão com mais ou menos prazer, mais ou menos humor.. Aqueles que constantemente buscam evolução terão satisfação de já não mais cederem à algumas solicitações sociais de dependência com alto grau de consciência. Entretando as interdepedencias da vida moderna são tantas que é muito dificil julgar à distância e de uma posição confortável, quem cedeu a que e porque, julgando a independência do outro. Certa vez ouvi algo muito sábio…\"só somos efetivamente capazes de julgar o que está abaixo de nós…\" isso quer dizer que para um gerente é dificil julgar um diretor, para um diretor dificil de julgar um presidente, para um presidente dificil julgar um conselheiro, para um eleitor dificil julgar um politico, para um filho dificil julgar um pai. Conheci um excelente professor doutor cujo tema causa ele abraçou durante a vida foi o de empresas extraordinárias, ele dizia que só as empresas extraordinárias sobreviverão nos próximos tempos, empresas extraordinárias precisam de gente extraordinária. Na nossa cultura brasileira, frases comuns do tipo… \"não é comigo…\" \"eu só sou um empregado…\" \"me mandaram fazer assim…\" \"…aqui isso sempre foi assim\" \"se eu fosse o dono eu ajudaria, mas…\" demonstram quanta falta de noção de liberdade e independencia ainda padece o povo brasileiro. Esse professor brilhante chama-se Cleber Aquino, ele entrevistou os maiores empresários brasileiros durante muito tempo, uma vez por uma feliz coincidência do destino eu estava em férias na mesma pousada que ele, num lugar bem afastado da multidões no Ceará e numa conversa deliciosa sobre a vida dele, ele me contou de uma entrevista que realizou com o falecido comandante Rolim da nossa querida TAM. O Prof. Dr. Cleber me disse que durante a entrevista falava-se sobre as conquistas do Comamdante Rolim e como deveria ser gratificante a posição que ele havia conquistado, ao que o Comandante Rolim respondeu não literalmente, \"sim conqusitei muitas coisas mas a que eu desejaria e não consigo é a de ser um ser humano idependente\".
Olá Ricardo,
Li seu artigo e acho uma feliz reflexão. Compartilho dessa visão.
Apenas quando nos damos conta de assumir a responsabilidade pelo que nos acontece, sem atribuir ao meio externo, nossas próprias dores, insatisfações, insucessos etc, é que tomamos as rédeas de nossa vida.
Nos apropriando dessa responsabilidade, e tambem nos acolhendo, sem culpas, auto-julgamento, entendendo e aceitando nossa natureza humana, passamos a agir de forma mais íntegra e integral com nossos próprios valores.
Sendo então mais íntegros e integrais, entendemos que assim, não agradaremos a todos, mas isso deixa de ser o foco principal, pois o autorespeito é mais essencial que o reconhecimento alheio, isso é individuação e inteireza.
E a partir dessa inteireza no SER, nos independemos do outro, vivendo apenas o relacionamento de inter-dependencia (que é muito diferente), inclusive aceitando melhor o outro (percebendo que o outro tambem, assim como nós, é um SER individual e autônomo.
E isso é liberdade plena!!
A sendo livres, sabemos claramente o que é ser feliz!!
Noves fora, a partir do autoconhecimento, encontramos nosso próprio lugar, saimos da vitimização!!
Independencia – Liberdade – Felicidade (Uma tríade da Plenitude)
Parabéns!!!
Forte abraço
Carinhosamente
Sô (Sonia Valéria)